Por que há tão poucos psicólogos homens? Insights de um estagiário em psicologia

traduzido por Yago Luksevicius de Moraes

Este é a primeira parte de um artigo com duas partes. Parte dois aparecerá na próxima edição da Male Psychology Magazine.

Aproximada 80% dos alunos de graduação em psicologia são mulheres. Homens têm menos chance que as mulheres de conseguir entrar num doutorado de psicologia clínica aplicada (DClinPsy), e aproximadamente 85% dos estagiários em psicologia clínica são mulheres. Talvez, uma das razões de haver menos homens em psicologia é que, desde o fim dos anos 80, meninos têm apresentado desempenho acadêmico pior que o das garotas nos ensinos fundamentais, médio e superior, especialmente meninos brancos da classe operária. Mulheres jovens têm aproximadamente 35% mais probabilidade de fazerem faculdade que homens atualmente, mas muito mais probabilidade de estudarem psicologia que homens. Isso sugere que o baixo número de homens estudando psicologia não pode ser completamente explicado por fracasso acadêmico generalizado.

Então, por que homens são menos dispostos a estudar psicologia? Não posso falar por todos os homens, obviamente, mas acho que minhas experiências podem reverberar com outros homens que escolheram estudar psicologia.

“Eu me sentia um pouco como um antílope em meio a 145 leoas”

Na minha graduação em psicologia, só 11 de 156 (7%) estudantes eram homens. No meu mestrado, só dois de 17 (12%) estudantes são homens. Durante este tempo, quando fazia perguntas ou discutia algo específico dos homens, eu frequentemente “levava patadas”. Eu me sentia um pouco como um antílope em meio a 145 leoas e, se eu compartilhasse algo que fosse considerado ‘diferente’ das experiências de minhas colegas, isso era invalidado. Depois de um tempo, isso me fez sentir que minhas visões não eram boas o suficiente porque eu era homem. Isso até me fez questionar minhas dificuldades com assuntos específicos da masculinidade. Então, comecei a duvidar de mim mesmo e achar que me faltava inteligência emocional. Isso, combinado com meu outro status de minoria na universidade – ser da classe operária – deixou-me sentindo que minha voz não era válida e a cultura do cancelamento tornou-se uma preocupação real.

“Se a situação fosse invertida, I nunca desconsideraria as contribuições de colegas mulheres só por serem mulheres e terem experiências diferentes das minhas.”

Durante meus estudos, comecei a amadurecer e, felizmente, tive apoio de professores que ajudaram com dinâmicas de grupo que permitiam, eu e meus colegas homens, nos expressarmos e minha confiança começou a aumenta quando contribuía às discussões de grupo. Nem todas as minhas colegas mulheres aparentavam ser anti-homem, mas um punhado certamente dava essa impressão. Se a situação fosse invertida, eu nunca desconsideraria as contribuições de minhas colegas só por serem mulheres e terem experiências diferentes das minhas. Ouvir os outros, independentemente do sexo, fornece sabedoria, crescimento pessoal e compreensão. Negar outras vozes alimenta a ignorância, superficialidade e arrogância, e cria um ambiente no qual as pessoas só ouvem até verem uma oportunidade de responder, ao invés de ouvir para aprender.

No meu programa, as visões feminina e feminista eram predominantes, o que me deixava desconfortável por ser homem. Muitas ideias parecem vir de um desejo de vingança contra o patriarcado e do sentimento de que as mulheres foram oprimidas pelos homens através da unidade da família tradicional. Dessa perspectiva, homens são vistos como precisando recuar para dar espaço às mulheres e o respeito que lhes foi negado anteriormente.

Apesar de não obter notas altas no GCSE (obs.: uma espécie de ENEM do Reino Unido feito no primeiro ano do Ensino Médio) e A-levels (obs.: tipo de ENEM feito no último ano do Ensino Médio), sinto que desde o início da universidade, estive em igualdade com minhas colegas mulheres, as quais costumavam tirar notas altas.

Referente ao trabalho e experiência clínica, eu me mudei geograficamente para ganhar a experiência e educação necessária para me posicionar melhor e assegurar um treinamento clínico. O fator mais limitante dos últimos 10 anos tem sido o salário baixo. Adicionalmente, foram necessárias 87 candidaturas para conseguir minha primeira posição como psicólogo estagiário. Exigindo que eu desenvolvesse resiliência para continuar buscando meus objetivos profissionais.

Ao longo da minha jornada acadêmica, do início ao meu doutorado, e durante cada cargo que tive no NHS (National Health System. Versão do SUS existente no Reino Unido), sempre fui o único homem ou parte de um punhado muito pequeno de homens (incluindo meu supervisor), o que sempre foi desafiador. Por exemplo, tanto pacientes homens quanto mulheres estavam dispostos a esperar 11 semanas para serem atendidos por um psicólogo homem, quando eu era o único psicólogo estagiário homem capaz de avaliar e providenciar terapia cognitiva-comportamental (TCC). Eu entendo completamente as necessidades desses pacientes homens. Se, por exemplo, eu tivesse uma experiência ruim com uma psicóloga mulher ou simplesmente me sentisse mais confortável com um homem, eu também estaria preparado para esperar a oportunidade de ser atendido por um homem. Ser compreendido e receber empatia de um(a) psicólogo(a) é vital. Se essa conexão estiver ausente, não há aliança terapêutica.

Até agora, consegui ganhar convites espontâneos para estar no rádio, criar podcasts, publicações e garantir financiamento para o meu doutorado (depois da minha primeira candidatura e fui entrevistado em 2 semanas), além da oportunidade de adaptar e criar grupos de TCC porque minhas taxas de melhora em IAPT (Improving Access to Psychological Therapies – Melhorando o acesso a terapias psicológicas) são as mais altas no meu serviço.

Estas oportunidades vieram de indagações e dizer “sim” a oportunidades e tarefas que eu ainda não tinha feito, não por causa das minhas notas altas, menos ainda por tirar 10 em tudo no meu bacharelado ou mestrado, nem por ser homem. Estas oportunidades vieram com sangue, suor e lágrimas.

“Por exemplo, foi-me pedido pela minha chefe para ensinar a nove novas psicólogas estagiárias os segredos de como eu tinha taxas de sucesso tão altas nos grupos de TCC que eu conduzia. Tirando duas das nove, o grupo só olhava para o nada e uma disse ‘você não é meu superior, nem sei por que estou te escutando’”.

Por exemplo, foi-me pedido pela minha chefe para ensinar a nove novas psicólogas estagiárias os segredos de como eu tinha taxas de sucesso tão altas nos grupos de TCC que eu conduzia. Tirando duas das nove, o grupo só olhava para o nada e uma disse “você não é meu chefe, nem sei por que estou te escutando”. No final, nossa chefe intrometeu-se e a maioria largou o celular e ouviu cada palavra que ela disse. Não foi uma experiência agradável e, de novo, se eu fizesse qualquer contribuição à discussão, era rejeitada ou ignorada.   

Pensamentos finais
Embora um homem na psicologia clínica possa ter notas mais baixas em seu currículo que uma mulher, ele pode alcançá-la depois de outras formas. No meu caso, apesar de não ter o melhor histórico, eu geralmente tinha mais percepção, experiência, impacto e publicações que minhas colegas de notas altas. Então, apesar de minhas colegas aparentarem navegarem calmamente pelo processo DClinPsy, conseguindo se expressarem clara e confiantemente, elas podem posteriormente sofrer em fazer avaliações clínicas, conduzir terapias e com a intensidade do processo de pesquisa.

As situações são complexas e não acredito que pessoas com notas baixas devam simplesmente passar na frente dos outros, baseado em seu sexo. Contudo, parece razoável que todas as experiências, qualidades, educações e origens de alguém devem ser levadas em consideração, não apenas as notas escolares dos últimos 10 anos ou mais. Um candidato que pode ver uma ampla gama de grupos de clientes - incluindo ter uma compreensão inata do perfil, relativamente difícil de alcançar, masculino - e que possa ser flexível, resiliente e prover uma terapia eficiente, conduzir pesquisas inovadoras e liderar serviços, certamente demonstrou ampla variedade de habilidades e atributos que deveriam ser valorizados por empregadores e pacientes.

É compreensível que mais mulheres que homens se tornem psicólogas clínicas, porque mais mulheres se inscrevem. Mas por que tão poucos homens se inscrevem? Fracasso escolar generalizado certamente está envolvido, mas não explica a enorme disparidade de gênero na quantidade de psicólogos e psicólogas clínicos/as. Essa questão merece a mesma prioridade que a falta de representatividade de minorias étnicas e pessoas com deficiências na psicologia, especialmente por homens serem mais propensos que as mulheres a morrerem de suicídio, mas menos propensos a buscarem ajuda profissional. 

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Anônimo

O autor é pós-graduado em psicologia. Ele é conhecido pelo editor da revista e pediu para não ter sua identidade divulgada.

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