80% dos psicólogos clínicos são mulheres. O que tem sido feito sobre esse desequlíbrio de gênero?

traduzido por Yago Luksevicius de Moraes

Introdução: Esta é a segunda parte de um artigo. Na Parte I, vimos que homens correspondem a apenas 20% dos psicólogos clínicos. Para um campo tão focado em equidade, esse é um elefante bem grande na sala. Aqui, na segunda parte deste artigo, esforços para abordar tal disparidade - e respostas a esses esforços - serão discutidos.

 

Na University of Bath, em 2015, somente um homem conseguiu uma vaga de estagiário em psicologia clínica. Na Kings College London (KCL), só 16% dos homens obtiveram uma vaga de ingresso em 2020. Estas figuras não são incomuns. O que tem sido feito, atualmente, para reduzir esse desequilíbrio de gênero na psicologia clínica? Algumas universidades estão alterando procedimentos de seleção (ex.: KCL). Outras estão indo às escolas e universidade promover a psicologia clínica aos homens, desestigmatizando a profissão, como a universidade Newcastle e a Leeds. A University of Bath está alterando o treinamento dos funcionários e, a partir de 2015, cada candidato masculino foi entrevistado por pelo menos um entrevistador homem. Southampton declarou no  website Clearing House que eles buscando uma ‘mistura de gêneros onde possível’. A KCL alterou seu processou de seleção para a próxima coorte de 2022, por meio da qual o ‘sexo masculino’ é uma característica protegida, conjuntamente com deficiência e etnia. O sexo masculino é uma característica protegida pelo Equality Act [Ato da Equidade] e a KCL deve ser parabenizada pela proatividade no assunto. Repare que implementar o ‘sexo masculino’ como uma característica protegida não significa que candidatos homens serão automaticamente aceitos. Ao invés disso, ser homem é uma característica que será levada em consideração junto do formulário de inscrição do candidato, sua educação, experiência clínica e trabalho, sendo que tudo será julgado por uma variedade de avaliadores.

“Não se trata de dizer que homens são melhores ou de querer reduzir a representação feminina, trata-se de apontar um desequilíbrio imenso, que no fim, pode prejudicar pacientes homens.”

Para muita gente, estas mudanças são bem-vindas, mas muito atrasadas. Por outro lado, quando a KCL informou suas modificações no processo de seleção no Twitter, houve uma enxurrada de tweets opondo-se à ideia. A maioria aparentava vir de atuais estagiárias mulheres, que simplesmente ignoraram o fato de que elas representam 84% da profissão.

Aqui está um gostinho de alguns desses tweets:  

- ‘Desde quando os homens são discriminados?’

- ‘Eu estava me candidatando para a KCL, mas agora, parece que como não sou homem, não posso entrar. Homens já têm privilégios suficientes sobre as mulheres’

- ‘Perguntem-se por que as outras ciências têm homens em sua maioria, antes de expulsar as mulheres da psicologia’

- ‘Homens são super representados nos níveis superiores de psicologia, apesar de serem a minoria na profissão’
- ‘Ser homem e em posições de poder dentro da profissão era a norma e ainda costuma ser’
- ‘Em entrevistas, sempre foi um homem branco, então por que eu não consigo ver como exatamente eles estão sub-representados?’

Não se trata de dizer que homens são melhores ou de querer reduzir a representação feminina, trata-se de apontar um desequilíbrio imenso, que no fim, pode prejudicar pacientes homens. Infelizmente, as taxas de suicídio ainda são significantemente mais altas em homens que em mulheres, especialmente em homens que têm entre 45 e 64 anos de idade. Os problemas de saúde mental masculina estão visíveis de outras formas também, ex.: homens são duas vezes mais propensos que mulheres de abusarem de substâncias. Pode-se argumentar que mais psicólogos são necessários não apenas de a energia e perspectiva inatas que eles podem trazer em tornar os serviços mais filândricos [amigáveis aos homens], mas também em conduzir pesquisas que explorem, investiguem e em aplicar os achados na prática clínica, ao trabalhar próximo tanto de colegas homens quanto mulheres. Infelizmente, com frequência, tais argumentos vão para ouvidos surdos.

“A psicologia clínica é um local de trabalho financiado publicamente, então por que discrepâncias tão grandes são permitidas?”

Eu sinto que quando se trata de qualquer assunto envolvendo um homem querendo equidade, isso é completamente ignorado ou fortemente combatido, com a intenção de ser desconsiderado. Além disso, o feminismo é receptivo a acusações de duplo padrão quando promove equidade da perspectiva feminina, mas não da perspectiva masculina. Eu senti que as mensagens no Twitter eram rancorosas, abastecidas por teorias de privilégios históricos dos homens e que negligenciavam fatos sólidos e bem-constatados diante delas: que as mulheres são a maioria privilegiada dentro da psicologia clínica e que muitos homens com problemas de saúde mental não estão buscando a ajuda delas. Sim, homens, ou pelo menos alguns homens, historicamente desfrutaram uma posição de privilégio, mas a profissão da psicologia, homens e mulheres, deveria ser menos focada em histórias rabugentas e mais em apoiar pacientes, homens e mulheres, a quem supostamente servimos.

Se o desequilíbrio de gênero fosse invertido, a reação seria completamente diferente. Porém, no momento, estamos mutilando um equilíbrio saudável de inúmeros jeitos, com todo tipo de consequências. Por exemplo, em reuniões multidisciplinares, um desequilíbrio de gênero enorme é limitar ideias que poderiam ajudar pacientes se tivéssemos serviços de saúde mais filândricos. Esta situação, de fato, perpetua o quadro de homens não buscarem a ajuda que eles precisam, o que é devastador. A psicologia clínica é um local de trabalho financiado publicamente, então por que discrepâncias tão grandes são permitidas?

“Foi-me dito inúmeras vezes que eu devo ‘ser gay’ porque ‘psicologia é apenas para mulheres. Por que você não pega um ‘trabalho adequado”

Tentar discutir o desequilíbrio de gênero dentro da psicologia clínica é complexo. Não sei ao certo qual é a solução, mas talvez precisemos criar uma colaboração com as 30 universidades do Reino Unido que oferecem treinamento em psicologia clínica e financiadas por pagadores de impostos para promover mudanças positivas.  O ponto é: trabalhar junto para permitir ideias e habilidades compartilhadas e para que pacientes tenham o melhor apoio psicológico. Southampton, KCL, Leeds, Newcastle e Bath estão liderando pelo exemplo e seus esforços devem ser reconhecidos formalmente pela BPS [British Psychological Society – Sociedade Psicológica Britânica] e outras universidades deveriam seguir o exemplo.

Como levaria uma década, mais ou menos, para uma nova leva de estagiários homens em psicologia clínica, uma mistura de diferentes estratégias inovadoras, como as mencionadas no começo desse artigo, é necessária para uma melhoria mais imediata necessária na atual crise da saúde mental. Somente o tempo dirá quais estratégias são as mais eficazes, mas a coragem das universidades que deram os ousados e necessários passos devem ser parabenizadas e encorajadas pelas demais universidades.

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Anônimo

O autor é pós-graduado em psicologia. Ele é conhecido pelo editor da revista e pediu para não ter sua identidade divulgada.

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