Homens brincalhões têm mais relacionamentos​

traduzido por Yago Luksevicius de Moraes

Você já teve a impressão de que os meninos são mais brincalhões que as meninas? Toda classe tem um palhaço, um menino palhaço, certo? Em uma de suas canções, o cantor brasileiro, Luiz Gonzaga, dissetoda menina que enjoa da boneca/ é sinal de que o amor/ já chegou no coração”. Com isso, ele enfatizou que as meninas perdem o interesse em brincar durante a adolescência. Por outro lado, os meninos aparentemente nunca perdem o interesse em brincar/jogar. Até os idosos concordam com a canção do Skank sobre futebol: “posso morrer pelo meu time/ se ele perder, que dor, imenso crime/ posso chorar se ele não ganhar/ mas se ele ganha, não adianta/ não há garganta que não pare de berrar”.

Já vi as pessoas usarem tais diferenças como evidências de que “as meninas amadurecem mais rápido que os meninos”. Normalmente, isso tem uma conotação moral, algo sobre uma suposta superioridade feminina, como se dissessem “por que os meninos não podem ser como as meninas? O mundo seria tão melhor se eles parassem de brincar e agissem como adultos, como ‘homens de verdade’”. Como alguém que joga, apesar de ser um adulto, não estou tão convencido de que abandonar a ludicidade seja tão desejável.

Não importa o quanto tentemos negar, humanos são uma espécie brincalhona, mesmo na fase adulta. Nós jogamos jogos, vemos os outros jogarem e discutimos sobre jogos com mais seriedade do que discutimos política. Contamos piadas, charadas, zoamos e nos provocamos, brincando com o significado das palavras de formas que deixariam até o mais brilhante cientista social parecendo um idiota. Nós somos o Homo ludens.

Mas por quê? A função do brincar ainda é um mistério. Suas múltiplas formas dificultam até dizer o que “brincar” significa e uma de suas formas é a “galhofa” (playfulness). Simplificando, “galhofa” é definida como um traço de personalidade na literatura psicológica: algumas pessoas são mais brincalhonas que outras; algumas brincam o tempo todo, outras quase nunca. O jeito como ela funciona levou cientistas evolucionistas a acreditarem que, enquanto o brincar infantil evoluiu como uma forma de aumentar as chances de sobrevivência, o brincar adulto evoluiu para aumentar as chances de reprodução. Em outras palavras: brincar é sexy!

Se você perguntar a estadunidenses ou alemães o que desejam num cônjuge de longe-prazo ideal, “brincalhão(ona)” é uma das características mais desejadas, depois das “importantes”, como bonito(a), inteligente e rico(a). Uma teoria de por que seria assim é a Teoria da Sinalização da Galhofa (Signal Theory of Playfulness). Pense assim: qual o tipo mais comum de brincadeira no reino animal (que nós reconhecemos, pelo menos)? Lutinha na infância!

Na luta de brincadeira, demonstra-se agressividade de forma controlada, não causando nenhum dano real. Há muitas evidências de que homens têm adaptações anatômicas e psicológicas para lutar. Isso é bom porque era necessário para caçar e proteger os outros, mas podia também ser usado abusivamente. Uma mulher que casou com um homem só porque ele é forte o suficiente para protegê-la poderia acabar morta pelo seu próprio marido. Então, ela precisa de algum indício de que ele pode protegê-la e, ao mesmo tempo, controlar sua agressividade para nunca a machucar. E a galhofa pode ser esse sinal.

Por outro lado, já que brincar é típico da juventude, pessoas brincalhonas seriam percebidas como mais jovens que as não-brincalhonas. Devido à menopausa, mulheres mais jovens tem mais valor reprodutivo no mercado de acasalamento (mating market). Portanto, não é de estranhar que homens busquem beleza, ou seja, sinais de juventude, nas mulheres. Contudo, as mulheres podem enganar os homens com maquiagens, roupas e outros modificadores de aparência. Então, um sinal comportamental de juventude também é desejável.

Bem, eu disse que isso se aplica a estadunidenses e alemães para relacionamentos de longo-prazo. Isso serve para brasileiros? E para relacionamentos de curto-prazo? Eu testei essas hipóteses no meu artigo Adult playful individuals have more long- and short-term relationships [adultos brincalhões têm mais relacionamentos de curto e longo prazo]. Nele, comparei o número de relacionamentos de curto e longo prazo com as pontuações da escala OLIW (Other-directed, Lighthearted, Intellectual, Whimsical). Essa escala divide a galhofa em quatro dimensões: 1) “Direcionada-ao-outro”, a qual se refere ao uso da galhofa para facilitar interações sociais e torná-las mais agradáveis; 2) “Descontraída”, a qual se refere à improvisação; 3) “Intelectual”, que é sobre divertir-se com ideias/tarefas complexas; 4) “Excêntrica”, que é sobre gostar de ser uma pessoa “fora-da-caixa”.

Então, curioso sobre os resultados? Homens que pontuaram mais em galhofa direcionada-ao-outro têm mais relacionamentos, tanto de curto quanto de longo prazo. O efeito foi pequeno, então não ache que ser engraçado é suficiente para conseguir várias transas. Mas parece ajudar, de qualquer forma. Especialmente se estiveres buscando um relacionamento de longo prazo. Para as mulheres, pontuações maiores em galhofa excêntrica predisseram mais relacionamentos de curto prazo. Contudo, os efeitos para as mulheres foram minúsculos. De acordo com critérios tradicionais, alguns considerariam desprezíveis. Mas nós estamos falando de um traço de personalidade, algo que nos afeta durante toda a vida. Então, quem sabe o efeito cumulativo que isso pode ter ao longo da vida?

Portanto, parece plausível que pessoas brincalhonas são mais atraentes. Por que homens sentem atração para relacionamentos de curto prazo com mulheres excêntricas? Difícil dizer. Talvez porque mulheres excêntricas chamam mais atenção ou talvez seja o contrário. Talvez seja porque a visão tradicional de feminilidade retrate as mulheres como passivas, românticas e monogâmicas. Então, as mulheres que têm muitos relacionamentos de curto prazo se consideram excêntricas. Fato é que nós não pudemos testar se mulheres brincalhonas são realmente percebidas como mais jovens.

Por outro lado, a galhofa direcionada-ao-outro teve quase o triplo da força no número de relacionamentos de curto prazo para os homens comparada à galhofa excêntrica para as mulheres e o dobro da força para o número masculino de relacionamentos de longo prazo comparado ao curto prazo. Portanto, parece que homens têm bons motivos para serem brincalhões em situações sociais.

Mas isso não quer dizer que o mundo masculino gira em torno das mulheres. Testamos uma hipótese nesse artigo: pessoas brincalhonas têm mais relacionamentos amorosos. Pode ser que homens brincalhões têm mais amigos, que os apresentam a mais mulheres. Na minha dissertação de mestrado, mulheres mais brincalhonas jogam jogos com mais frequência que as menos brincalhonas, mas a galhofa não correlaciona com o jogar masculino. Além disso, jogar não correlaciona com o número de relacionamentos em nenhum sexo (indicando que a errônea a premissa de que gamers são virgens reclusos). Portanto, a galhofa pode servir para atrair parceiros, enquanto jogar tem outro propósito. No meu próximo projeto de pesquisa, espero descobrir se esse outro propósito poderia ser formar amizades.

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Yago Luksevicius de Moraes

Yago tem 29 anos e é doutorando em Psicologia, estudando em São Paulo, Brasil. Seus estudos sobre a psicologia masculina levaram-no inicialmente ao modelo deficitário, mas mais pesquisas fizeram-no progredir para além desse ponto. Ele é um autor iniciante, com interesse em psicologia masculina e jogos, e torce para que, um dia, o campo da psicologia esteja aberto a discutir os problemas masculinos sem culpar a vítima.

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